Perdi minha boquinha
O texto que segue abaixo é fruto de um pedido ao comprade (quase literalmente, pois tocamos no casamento dele - ele conosco) Wilfred Gadêlha, que, em vez de um mero comentário, mandou ver num "tempo quente" que é como chamamos a cobertura de eventos no jargão jornalístico. Apesar de bróder, amigo de longa data, ele soube ser o máximo isento e crítico possível. Valeu, Frodo!
Foi com muita satisfação que estive no Arraial da Tomazina na sexta-feira 22 de junho. Era a (re)estréia da Lady Murphy e seu suado (bote suor nisso!), dedicado e bem-planejado projeto autoral. Uma banda com anos de experiência - juro que não foi uma indireta, Serginho -, cujos membros já passaram por nomes que vão de Frank Jr. a Iron Maiden Cover, com toneladas de influências aparentemente díspares, não poderia fazer vergonha justamente no dèbut das canções forjadas depois do expediente, para o desespero das patroas.
Se o show não arregimentou paixões exacerbadas, pelo menos passou no teste da goma. Ninguém se feriu. Em que pese a Lady Murphy ter dado a cara à tapa em dezenas de shows em lugares como o Pedra de Toque, o Burburinho e o meu casamento, a verdade é que o projeto autoral estava maduro. Pronto para ser desovado na primeira oportunidade. E assim o foi.
É claro que o povo que estava na Tomazina curtiu o que os caras se propuseram a fazer. Primeiro porque ali estava quem não estava a fim de cair no balancê. Ponto para a banca. Segundo, o coquetel sonoro de Who, Rush, Led, ACDC, Barão Vermelho, Golpe e um tiquinho de Lula Côrtes que foi oferecido para a turba desceu bem e reanimou.
E, sabiamente, que ninguém ali é menino, os caras intermediaram as músicas próprias com covers cantadas na língua pátria. Taí mais uma outra mudança. Quem esperava que a LM mandasse ver nos indefectíveis sons como Jumpin Jack Flash, Sunshine for your love ou Pinball wizard, voltou pra casa com gosto de guarda-chuva na gengiva. Nada disso: em português, deu para ouvir o que os caras têm a dizer.
E da voz principal de Marcos "Shasha" Toledo e dos backings de Ricardo "Locomia" Novelino e Leo "Nahim" Spinelli, saíram músicas que poderiam tocar em qualquer rádio do Recife. Poderiam, mas não vão, porque jabá não é com os caras. O trabalho vocal é de se render lôas, assim como o peso monumental que saía da cozinha protagonizada por Serginho "Magela" Montenegro e Carioca. Pense numa paulada.
Sons psicodélicos, piadas de fumódromo, até mesmo um pezinho na escatologia. Turmalina leva o cidadão à Londres do flower power e às minissaias de Twiggy. Já Mendiga caminhou uns dez anos pra frente, cheirou cola, editou fanzine e ouviu muito Ramones e Sex Pistols. O encerramento se deu como o começo: tanto a abrideira Hey hey como a saideira Minha gata da China têm potencial para serem hinos de uma geração de saco cheio de alfaia ou de Fatboy Slim no Marco Zero.
Só um senão: as músicas escolhidas para o início do show poderiam ser mais instigadas, justamente como as da metade final da apresentação o foram. Mas só perde gol quem está lá pra finalizar.
Por fim, esta etapa nova da carreira da Lady Murphy tem cheiro e gosto de fim de um ciclo. E isso significa que nem tão cedo a banda tocará Paranoid. Droga, perdi minha boquinha para entrar nos shows como participação especial...
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* Wilfred Gadêlha é jornalista e músico